sobre livros e a vida

18/01/2020

Tá na estante :: Biblioteca H. P. Lovecraft – vol. 1: O chamado de Cthulhu e outras histórias

Oi gente!

H. P. Lovecraft é um dos nomes mais influentes na literatura de terror/horror tendo suas histórias influenciado muitos autores contemporâneos. Celebrando este autor incrível, a Companhia das Letras apresenta ao público o primeiro volume de sua “Biblioteca H. P. Lovecraft” que trará as histórias completas do autor. Vem que vou te contar um pouco sobre essa edição.

Neste volume da coleção, a editora reúne 10 contos de Lovecraft, traduzidos e organizados por Guilherme da Silva Braga. Aqui gostaria de ressaltar dois pontos: o primeiro para a escolha dos contos. Temos contos mais curtos como “Dagon”, contos mais longos como “A sombra vinda do tempo’, e os clássicos como “A sombra de Innsmouth” e “O chamdo de Cthulhu”. O segundo ponto é para a tradução, Lovecraft é um autor conhecido por sua escrita erudita e uso de termos e descrições científicas, aqui Braga nos dá uma tradução que nos proporciona o desfrute pleno das cenas e sentimentos mesmo com os termos científicos e descrições detalhistas, não prejudicando o entendimento e leitura.

Os  contos presentes são: Dagon; Ar frio; O modelo de Pickman; A música de Erich Zann; O assombro das trevas; O chamado de Cthulhu; O horror de Dunwich; A sombra vinda do tempo; A casa temida e A sombra de Innsmouth. Além dos contos, a edição conta  a lista das fontes  onde os textos foram publicados originalmente e uma breve biografia do autor.

Esta edição conta com capa dura lindamente ilustrada e um projeto gráfico de miolo espetacular (créditos a Carlo Giovani e Rafael Nobre), diagramação espaçosa com fonte confortável permitindo uma leitura sem complicações, tudo em papel Pólen®, dando mais conforto visual e luxo a este livro. É um livro lindo para se ter na estante e, já venho com altas expectativas, uma coleção que vale à pena ter na biblioteca.

Este foi o meu primeiro contato real com a obra de H. P. Lovecraft, já havia visto muitas resenhas e vídeos sobre seus contos, mas foi a primeira vez que li efetivamente sua obra. Descobri que não são todos os contos que me agradam, por conta dos temas focados em alguns deles, sendo que “Ar frio” foi de longe o conto que mais gostei. Porém esta coletânea me permitiu viver a grandiosidade desse autor, percebendo os toques de agonia, loucura febril e desespero que estão presente em suas histórias. Muitos dos contos me deram a impressão de estar em um daqueles sonhos loucos em que a loucura parece real e palpável, e tudo o que você mais quer é acordar e perceber que foi só um pesadelo. Àqueles que ainda não entraram em contato com o autor: conheçam H. P. Lovecraft!

E vocês já leram o autor? O que mais gostaram de sua literatura? Conta mais nos comentários!

BEIJÃO E ATÉ MAIS!

27/10/2019

Tá Na Estante :: ‘A Terra Inabitável’

Quando olhamos a sinopse deste livro, nos dá uma sensação de que novamente iremos nos deparar com mais uma literatura sensacionalista sobre o fim dos tempos. Mas não é isso que David Wallace-Wells no entrega em seu A terra inabitável: uma história do futuro. O texto deste livro é escrito de na forma de reportagem jornalística, tendo seu apoio em artigos científicos (você tem as referências utilizadas pelo autor ao longo do livro nas páginas finais).

Nesta obra, que se origina de uma matéria escrita por Wallace-Wells ao New York Magazine em 2017, temos relacionadas as diversas mudanças que irão ocorrer devido ao aumento da temperatura global nos próximos 80 anos (a previsão especulativa da ciência apresentada neste livro é até 2100). Antes de apresentar mais sobre esta leitura e minha opinião sobre ela, venho, com respeito às diversas ideologias existentes, esclarecer que nesta resenha não haverá margem para não acreditar que o aquecimento global é um fato.

Na primeira página do livro, o autor já nos traz todas as ilusões relacionadas com ao aquecimento global: o aquecimento como uma saga ártica; algo estritamente relacionado com o nível dos mares e os litorais; uma crise do mundo natural e não relacionado com os seres humanos; de que a riqueza pode ser uma proteção contra as devastações do aquecimento; que a queima de combustíveis fósseis é o preço a se pagar pelo desenvolvimento.

Desse modo, Wallace-Wells já tira de seu leitor todas as expectativas de um texto neutro politicamente, não deixando, também, margens para tratar as mudanças climáticas como hipóteses, suposições e cenários fictícios. E ele não irá tirar dos humanos a culpa pelo que está ocorrendo.

A Terra conheceu cinco extinções em massa antes da que estamos presenciando hoje, cada uma delas uma aniquilação tão completa do registro fóssil que funcionou como um recomeço evolucionário, levando a árvore filogenética do planeta a se expandir e contrair como um pulmão (…).  Na verdade, todas elas [as extinções], com exceção da que matou os dinossauros, envolveram a mudança climática produzida por gases de efeito estufa (…). E neste exato instante há pelo menos um terço a mais de carbono na atmosfera do que em qualquer outro momento nos últimos 800 mil anos – talvez até nos últimos 15 milhões de anos.

O autor apresenta as previsões de aquecimento até 2100 e as consequências desses “poucos” graus Celsius a mais. Em uma estimativa de um aumento de 2°C (obs: 2°C de aquecimento global era o limiar da catástrofe quando o Protocolo de Kyoto foi firmado em 1997), as calotas polares começaram a desmanchar; 400 milhões de pessoas terão escassez de água; grandes e importantes cidades litorâneas da zona equatorial serão inabitáveis; nas latitudes setentrionais (hemisfério norte), o calor do verão matará milhões de pessoas.

Com 3°C, a Europa Meridional viverá uma seca permanente; a América Central passaria a ter seca de 19 meses a mais, o Caribe, 21 meses, o norte da África, 70 meses; as queimadas por incêndios florestais dobrariam no Mediterrâneo e sextuplicariam nos EUA.

Com 4°C, aumento para 8 milhões novos casos de dengue só na América Latina; aumento em 9% da mortalidade ligada ao calor; em alguns lugares, seis desastres ambientais provocados pelo clima poderiam ocorrer ao mesmo tempo; o prejuízo global passaria dos 600 trilhões de dólares (mais riqueza do que existe hoje no mundo); regiões inteiras da África, Austrália e dos EUA, parte da América do Sul e da Ásia ficariam inabitáveis devido ao calor direto, à desertificação e às inundações. E estes são os melhores cenários. A estimativa chega a um aumento de 8°C.

Na verdade, mais da metade do carbono dissipado na atmosfera devido à queima de combustíveis fósseis foi emitido apenas nas últimas três décadas. Ou seja: trouxemos mais prejuízos para o destino do planeta e sua capacidade de sustentar a vida humana e a civilização depois que Al Gore publicou seu primeiro livro sobre o clima do que em todos os séculos – ou milênios – anteriores.

Ao apresentar todas as catástrofes (que não param apenas no que expus até aqui), o autor nos chama a atenção ao fato de que a responsabilidade está no que nós (eu, você e população mundial) iremos fazer nas próximas décadas. David nos atenta ao fato de que deveríamos nos unir globalmente e tomarmos frente para amenizar ou inverter o rumo que estamos seguindo. Contudo, mesmo que tomemo logo a atitude de pararmos com a emissão de carbono e cumprido o proposto nos acordo de Paris, é provável que alcancemos um aumento entre 3,2 e 4°C até 2100.

Na verdade, foi assim que o governador da Califórnia, Jerry Brown, descreveu o estado de coisas em plena crise de incêndios florestais no estado: “o novo normal”. Mas a verdade é bem mais assustadora. Isto é, o fim do normal; nunca mais o normal. Já abandonamos o estado de condições ambientais que permitiu ao animal humano evoluir, numa aposta incerta e imprevista do que esse animal é capaz de suportar. O sistema climático sob o qual fomo criados, assim como foi criado tudo o que entendemos até hoje por cultura humana e civilização, agora está, como o pai ou a mãe de alguém, morto.

Por mais alarmante que a situação seja e que estejamos de acordo, outra reflexão é trazida pelo autor: a nossa inércia. Assim como ele reflexiona no livro, eu também não sou ambientalista e sempre vivi em cidade, cercada de carros e aparelhos de última tecnologia, e embora eu compreenda a importância da natureza, da limpeza dos corpos d’água e do ar, o comodismo que a revolução industrial e tecnológica trouxeram até mim me fazem pender a balança para eles.

Não adianta ser hipócrita, apesar da consciência sobre o atual estado do planeta, sou como bilhões de outros seres humanos, sentada em meu computador, andando no meu carro, vivendo em uma sala com a comodidade da água fresca e do ar condicionado, olhando para meu próprio umbigo. Este é o ponto que precisamos mudar essa visão, não drasticamente, mas aos poucos para conseguirmos reverter esse processo. Mas ninguém disse que é ou vai ser fácil.

(…)[A mudança climática] que é não apenas a maior ameaça que a vida humana no planeta já enfrentou, como também uma ameaça de categoria e escala totalmente diferentes. Isto é, a escala da própria vida humana.

Eu comecei a ler esse livro em agosto, bem no meio do caos da queima da floresta amazônica. Foi uma leitura densa, que se arrastou por mais de um mês, pois a cada página virada, eu levava um soco diferente no estômago. Não é uma leitura leve, é uma leitura acompanha de lápis, marcadores e caneta marca texto, no qual refleti e anotei pontos no livro todo. Deveria ser, ao meu entendimento, uma leitura obrigatória a todos, sem exceção.

Não podemos mais fechar os olhos e acreditar que toada essa mudança climática não vai nos atingir. A mudança, em minha vida, começou a vir nos pequenos gestos do dia-a-dia, mas é assim, pelas gotinhas frente ao oceano que vamos chegando a um futuro melhor.

No livro o autor vai trazer também a responsabilidade dos governantes frente a situação do clima. Em alguns pontos concordo e em outros discordo com ele. Deixo essa reflexão para ser feita por cada um que ler o livro.

BEIJÃO E ATÉ MAIS!

 

21/11/2018

Tá Na Estante :: ‘A Revolução dos Bichos – HQ’ #824

Em A Revolução dos Bichos vamos conhecer a história da Granja Solar, uma fazenda numa região pacata da Inglaterra. Administrada pelo Sr. Jones, dono da propriedade, a granja já viu dias melhores e os animais que ali vivem estão cada dia mais insatisfeitos com tudo aquilo que precisam fazer para conseguirem tão poucas recompensas.

Percebendo os anseios dos seus colegas, o porco Major coloca na mente dos animais a ideia de uma revolução. Ele sabe que unidos os bichos tem melhores condições de administrar a fazenda do que qualquer humano. Quando Major morre, o seu discurso segue na mente dos outros animais e os porcos Bola de Neve e Napoleão logo conseguem convencer seus companheiros que está na hora de tomarem a posse da fazenda.

“A liberdade, se é que significa alguma coisa, significa o nosso direito de dizer às pessoas o que não querem ouvir.”

O plano é armado com bastante empenho pelos porcos, que são considerados os animais mais inteligentes do celeiro. Não demora muito para que este seja executado e não há chance para o Sr. Jones, que se vê expulso de sua própria casa. Logo os animais ficam felizes com a independência e trabalham em harmonia, para melhorar as condições da granja. A regra mais importante é aquela onde todos aqueles com duas patas são considerados inimigos. Continue reading “Tá Na Estante :: ‘A Revolução dos Bichos – HQ’ #824”

17/10/2018

Tá na estante :: ‘A Origem do Mundo’ #820

Oi gente!

Hoje vamos falar sobre vulva e vagina. Sem vergonhas pessoal.

 

Livro: A Origem do Mundo

Autora: Liv Strömqusit

Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 144
Sinopses: Por que as sociedades alimentaram uma relação tão esquizofrênica com a vagina ao longo dos séculos? Por que a menstruação é um tema apagado de nossa cultura quando costumava ser algo sagrado para os povos ancestrais? A origem do mundo escancara interditos e desafia mitos e tabus. Um livro genial, catártico e absolutamente necessário. Se “o pessoal é político”, como dizia o slogan da segunda onda feminista, iniciada nos anos 1960, Liv Strömquist criou um livro radical. Com humor afiado, a artista sueca expõe as mais diversas tentativas de domar,castrar e padronizar o sexo feminino ao longo da história. Dos gregos antigos a Stieg Larsson, das mulheres da Idade da Pedra a Sigmund Freud, de Jean-Paul Sartre a John Harvey Kellogg (o inventor dos sucrilhos), da fábula da bela adormecida a deusas hindus, de livros de biologia ao rapper Dogge Doggelito, A Origem do Mundo esquadrinha nossa cultura e vai até o epicentro da construção social do sexo. Para Liv, culpabilizar o prazer é um dos mais efetivos instrumentos de dominação – graças à culpa, a maçã é venenosa e o paraíso mantém seus portões fechados. Um crítica hilária, libertadora e intrusiva sobre o sexo feminino.

Em seu livro, Liv Strömquist apresenta a história da vulva, da vagina e da sexualidade feminina ao longo dos séculos. Em forma de quadrinhos, a autora traz como a visão do mundo sobre as mulheres e seu órgão sexual mudou.

Cultuado na Antiguidade e respeitado por todos, o órgão genital feminino passa, durante a Idade Média, por uma mistificação, e, consequentemente, o lugar da mulher na sociedade também é modificado. Após esta longa Idade das Trevas, a sexualidade feminina nunca mais foi vista como natural, como a do homem, por exemplo. Não sendo assunto de conversas cotidianas, não podendo se expor a intimidade da mulher, apresentada como motivo de vergonha.

O bom humor da autora e as críticas ácidas ao “interesse do patriarcado sobre a vagina e vulva” fazem com que a leitura seja leve, descontraída, ao mesmo tempo que nos traz um ótimo acervo histórico, político e crítico, além de nos motivar a conhecer nosso corpo, além de trazer o questionamento do porque isso aconteceu, de como essa interferência masculina deturpou a imagem da mulher.

O título do livro em português remonta ao quadro de Gustave Coubet “A Origem do Mundo”, no qual o artista pinta o nu feminino em sua forma mais natural. O quadro traz a representação do órgão feminino exterior.

Como feminista que sou, achei sensacional a forma de abordagem da autora para o tema. As críticas que Liv apresenta e retomada da influência de certos personagens históricos nesta mudança da visão da sexualidade feminina de ser cultuada, tida como importante, para uma visão vergonhosa, de extremos esquecimento.

A leitura é fácil e fluida, para quem gosta de quadrinhos, vai se deliciar com este, que tem um tamanho grande, ilustrações lindas (tanto em preto e branco quanto coloridas). Um ponto negativo da versão que chegou até nós é o papel que não é fotográfico, é um sulfite mais grosso (e para quem gosta do cheirinho de livros, bom, esse me retomou o cheiro de jornal, que particularmente não gosto). Em suma: mulheres e homens, leiam esse livro!
BEIJÃO E ATÉ MAIS!

25/09/2018

Tá Na Estante :: ‘Uma Breve História da Bebedeira’

Já se perguntaram por que o ser humano começou a beber? Então vamos fazer uma viagem ao longo da história da humanidade.

Em Uma Breve História da Bebedeira, o autor Mark Forsyth nos leva a conhecer as origens da bebida alcoólica nas antigas civilizações, passando pela evolução do homem, pela pré-história, pela Suméria até chegar na Rússia e na Lei Seca. Tudo isso em uma escrita carregada de bom humor e imaginação, na qual o autor nos coloca dentro da realidade que ele está contando, como se fossemos personagens da história.

Continue reading “Tá Na Estante :: ‘Uma Breve História da Bebedeira’”

17/07/2018

Tá Na Estante :: ‘Nunca Houve um Castelo’ #798

OI, MATES! TUDO BEM?

Vamos conversar sobre um livro brasileiro fantástico?

LIVRO: Nunca Houve um Castelo
AUTORA: Martha Batalha
EDITORA: Companhia de Letras
PÁGINAS: 251
SINOPSE: Em seu segundo romance, Martha Batalha recria a trajetória dos descendentes de Johan Edward Jansson, cônsul da Suécia no Brasil. Em 1904, ele construiu um castelo em Ipanema. Rio de Janeiro, 1968. Estela, recém-casada, mancha com choro e rímel a fronha bordada de seu travesseiro. Uma semana antes ela estava na festa de Réveillon que marcaria de modo irremediável seu casamento. Estela sabia decorar uma casa, receber convidados e preparar banquetes, mas não estava preparada para o que aconteceu. Setenta anos antes, Johan Edward Jansson conhece Brigitta também em uma festa de Réveillon, em Estocolmo. Eles se casam, mudam-se para o Rio de Janeiro e constroem um castelo num lugar ermo e distante do centro, chamado Ipanema. Nunca houve um castelo explora como essas duas festas de Ano-Novo definem a trajetória dos Jansson ao longo de 110 anos. É uma saga familiar embebida em história, construída com doses de humor, ironia e sensibilidade. A riqueza e a complexidade dos múltiplos personagens criados por Batalha permitem tratar de temas que se entrelaçam e definiram a sociedade brasileira nas últimas décadas, como o sonho da ascensão social, os ideais femininos e feministas, a revolução sexual, a reação ao golpe militar, a divisão de classes, a deterioração do país. Um romance comovente sobre escolhas e arrependimentos, sobre a matéria granular da memória e as mudanças imperceptíveis e irremediáveis do tempo.

Johan Jansson levava uma vida monótona em Estocolmo, na Suécia. Até que depois de tanto que sua mãe insiste, ele aceita ir em uma festa de réveillon onde conhece Brigitta e é amor a primeira vista. Os dois se apaixonam e não demoram a casar. Com um bom emprego e apaixonado, o casal acaba por se mudar para o Rio de Janeiro, onde Johan acreditava que a saúde frágil da esposa poderia ser melhor tratada e lá eles não só constroem sua vida, como um castelo, a sua morada, no bairro até então ermo de Ipanema.

Entre idas e vindas, a história narra a vida da família Jansson e daqueles que entram em seu convívio ao longo de 110 anos, onde o castelo é o ponto central onde tudo iniciou e de forma fadada onde tudo acabará um dia.

Martha Batalha é uma bênção para a literatura brasileira. Sua escrita é de uma delicadeza digna de um poeta, e ao mesmo tempo que ela aborda de tramas complexas no livro, como o golpe militar e a ditadura, sua escrita é quase a melodia de uma canção cantada pelos anjos. O que poderia ser assustador, torna-se uma imagem clássica em nossa interpretação. O que poderia ser dramático pode ser devastador.


Nunca Houve um Castelo é uma ficção brasileira que trata de personagens que existiram na vida real. No entanto, Martha tomou a liberdade de escrevê-los ficcionalmente e, pelo amor de Cher, como ela os criou bem! Eu me senti afeiçoada por cada um deles.

Inclusive, o livro tem muitos, muitos personagens, o que poderia ser um problema no desenvolvimento de enredo, mas cada um deles aparece no momento certo e a divisão de núcleos por década ajuda muito para o leitor não se perder e iniciar a nova fase da história com um novo enredo e tópicos para serem discutidos.
O desenvolvimento dos personagens ocorre naturalmente através das décadas e a própria cidade, ao final, pode ser apontada como um personagem primordial da trama, já que ela mudou, desconstruiu-se e acompanhou todas essas histórias acontecerem.

Se a família e o seu círculo social é o centro da história, eu me peguei por muitos momentos fascinada pela riqueza de detalhes atribuídos pela autora. Ela conseguiu abordar assuntos de três décadas atrás, sem soar como quem está dando uma aula para o leitor. Ela trouxe em foco homossexualidade, preconceito, traição, o divórcio e a ditadura mostrando ao leitor como não é a história que se repete, mas os humanos é que insistem em copiar a história.

É um livro rico de um enredo redondo, bem desenvolvido, critico, emocional, complexo e verossímil, como também muito bem construído e pesquisado, ponto comprovado no rigor de detalhes quanto os acontecimentos nos Anos 70/80 e nos assuntos abordados pela autora ao longo da trama.

Essa foi a minha primeira experiência lendo Martha Batalha e ao fim dessa leitura, eu sinto que ela conquistou um espaço no meu coração como autora favorita. Pretendo ler A Vida Invisível de Euridice Gusmão, o seu primeiro livro, também lançado pela Companhia de Letras. Quem sabe em breve tenhamos resenha aqui.

Recomendo esse livro para todos que querem conhecer um pedacinho do Rio de Janeiro das antigas.

XOXO!