sobre livros e a vida

18/08/2019

Tá Na Estante :: ‘Uma Mulher no Escuro’

Numa madrugada, quando tinha apenas 4 anos, Victoria Bravo viu seus pais e seu irmão mais velho, Eric, serem brutalmente assassinados a facadas e terem seu rosto pichado de preto pelo assassino. Vic também foi atacada, mas conseguiu sobreviver, levando consigo apenas, além do trauma e da saúde mental debilitada, uma perna mecânica. O caso foi holofote durante muito tempo, tendo o assassino, Santiago – um aluno da escola dos pais da garota -, passado a ser conhecido como o Pichador.

Vinte anos depois, Victoria está tentando seguir sua vida. Semanalmente ela consulta com um psiquiatra, Dr. Max, trabalha em um café como garçonete, vive em um quarto-sala na Lapa e tem como companhia sua tia-avó, Emília, que vive em uma casa de repouso e um rapaz, Arroz, que conheceu na internet. Ela e Arroz tem um jeito peculiar de passar o tempo. Eles visitam casas que estão à venda, mas nas quais as pessoas ainda vivem, simplesmente pelo prazer de entrar na vida alheia.

No café onde Victoria trabalha, um escritor chamado Georges lhe desperta atenção. Todos os dias ele está lá, na mesma mesa, com seu fiel companheiro, seu notebook. Certa noite, Vic aceita um convite de Georges para sair após o expediente e a conversa flui tão naturalmente que ela começa a nutrir um sentimento pelo homem, algo que nunca cogitou ser possível. Quando finalmente acredita que pode ter a chance de viver uma vida normal, uma bomba cai no colo de Victoria e isto vai mudar o rumo da sua vida para sempre.

Ao retornar ao seu apartamento, Vic o encontra arrombado. Nenhum item de valor foi levado, o que a garota estranha, até chegar no quarto e perceber a intenção do invasor. Seu urso de pelúcia, Abu, está com a cara toda pichada, além de uma mensagem ter sido escrita com tinta spray em sua parede. Seria possível que, após vinte anos, Santiago estivesse de volta para terminar o trabalho que iniciou naquela noite?

Sem saber em quem confiar, Victoria entrará em uma busca por respostas. Aos poucos, a menina vai desbravando fatos sobre seu passado e descobrindo mais sobre sua família e sobre si mesma. Estará ela preparada para enfrentar estes fantasmas em seu armário e encarar o assassino dos seus pais pela primeira – e última – vez?

Querem saber o que vai acontecer? Então não deixem de ler!

***

Quem me conhece sabe que Raphael Montes é um dos meus autores queridinhos da atualidade. Depois de enormes sucessos como Dias Perfeitos e Jantar Secreto, o autor me cativou ao ponto de eu decidir ler tudo que ele escrevesse. Ainda preciso ler Suicidas, seu trabalho de estreia, mas o restante das leituras está em dia. Então, quando Uma Mulher no Escuro foi anunciado, imediatamente fiz minha solicitação, dando prioridade para esta leitura quando o livro chegou aqui em casa.

A escrita de Montes é fluida e muito envolvente. O que gosto nos livros dele é que Rapha não tem papas na língua e descreve todo seu cenário completamente baseado na realidade grotesca do ser humano. Além disso, em todos os seus livros o leitor não pode confiar em ninguém, tanto que neste aqui eu desconfiava até da sombra da protagonista. Eu, particularmente, amo este estilo de narrativa, onde todos são suspeitos, pois faz com que você crie inúmeras teorias de quem é o culpado para então ser surpreendido – ou não – no final.

A narrativa é feita em terceira pessoa, pela perspectiva de Victoria, mas com alguns trechos narrados pelo ‘vilão’. Victoria é a primeira protagonista feminina de Montes e eu achei que ele soube desenvolvê-la super bem. Ela é completamente verossímil, sendo uma jovem de vinte e pouco anos que sofreu um enorme trauma na infância. Victoria segue com algumas características infantis, como usar lacinho no cabelo e dormir com um ursinho de pelúcia, mas também teve problemas de adultos, como o alcoolismo, que foi um ponto importante na definição de seu caráter.

Mesmo com toda essa aura misteriosa que eu tanto amo encobrindo a narrativa, preciso dizer que senti que faltou alguma coisa. O livro tem pouco mais de 250 páginas e por mais que novas pistas fossem apresentadas a cada virar de página, pra mim pareceu que o final foi rápido e fácil demais. Bem antes das últimas páginas eu já tinha descoberto a maior parte do desfecho, só fui surpreendido por uma única coisa, que também me deixou extremamente chocado com a brutalidade, então palmas para Montes outra vez.

A edição da Companhia das Letras está excelente. Adorei o tom de roxo da capa e a figura de Abu sendo retratada, além da pichação ao fundo. Só não consegui captar bem o significado do título e sua relação com a história. Acho que terei que perguntar para o autor o que ele quis dizer com isso, haha. A diagramação é simples, a fonte tem um ótimo tamanho e as páginas são amareladas. Apesar de destoar um pouco dos outros livros do autor, fica tudo muito lindo na estante.

Uma Mulher no Escuro pode não ser o melhor trabalho de Raphael Montes até agora, mas com certeza merece seu destaque. Foi uma leitura bastante instigante e por isso deixo aqui minha recomendação para vocês, além da de todos os outros livros do autor. Sou suspeito pra falar, mas o nome de Montes é um que deve ser guardado, pois esse autor ainda vai nos surpreender muito. Se joguem em suas histórias!

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