sobre livros e a vida

27/06/2018

Tá Na Estante :: ‘A Festa da Insignificância’ #795

Oi, gente!

Pensa num livro pequeno que faz a gente refletir bastante… Esse é o Festa da Insignificância do autor tcheco Milan Kundera.

Livro: A festa da insignificância
Autor: Milan Kundera
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 136
Sinopse: Este romance de Milan Kundera coloca em cena quatro amigos parisienses que vivem numa deriva inócua, característica de uma existência contemporânea esvaziada de sentido. Eles passeiam pelos jardins de Luxemburgo, se encontra numa festa sinistra, constatam que as novas gerações já se esqueceram de quem era Stálin, perguntam-se o que está por trás de uma sociedade que, ao invés dos seios ou das pernas, coloca o umbigo no centro do erotismo. Na forma de uma fuga com variações sobre um mesmo tema, Kundera transita com naturalidade entre a Paris de hoje em dia e a União Soviética de ontem, propondo um paralelo entre essas duas épocas. Assim, o romance tematiza o pior da civilização e lança luz sobre os problemas mais sérios com muito bom humor e ironia, abraçando a insignificância da existência humana.

Trazendo filosofia, críticas e melancolia, o romance A festa da insignificância, aborda a erotização do umbigo, suicídio, assassinato, aborto, falsas identidades, falsas doenças e Stálin e seus subordinados. Durante a leitura, esses temas parecem desconexos e sem qualquer significação quando apontados dessa forma, o que nos leva a refletir sobre a pequinês e a insignificância da vida humana.
A história é narrada em Paris através de recortes da vida de quatro amigos (Alain, Charles, Calibã e Ramon). O livro começa com o questionamento de Alain sobre a moda de usar roupas que deixam à mostra o umbigo, sua erotização no lugar de coxas, peitos ou bumbuns. Esse questionamento vai ser abordado em vários pontos do livro. 
Alain também traz, além desse questionamento curioso, um trauma de infância: ele foi abandonado pela mãe quando criança, e cresceu sem saber muito sobre ela. Com isso, em vários momentos do livro ele tem diálogos com essa mãe desconhecida, imaginando o que ela diria a ele nas situações que está vivendo.
D’ardelo é o cara que quer ter as atenções para ele. Voltando de uma consulta médica, descobre que está curado de um câncer, mas, ao encontrar um conhecido, Ramon, ele inventa que está com o câncer e que tem pouco tempo de vida.

E para celebrar a vida (ou seus falsos últimos dias), D’ardelo quer dar uma grande festa. Com esse encontro, Ramon fica comovido pela luta de D’ardelo contra a doença, mesmo sem ter lá muito gosto pelo conhecido. Este encontro leva Ramon a refletir sobre o narcisismo e as pessoas insignificantes.
Charles está lendo o livro “Memórias” de Nikita Khruschóv, que relata os bastidores do que era ser um subordinado de Stálin. Com esse personagem, Kundera conseguiu inserir críticas ao stalinismo de forma muito sutil (a saber: Kundera é tcheco e foi perseguido pelo regime stalinista, por isso mudou-se para França, onde continua residindo e publicando seus livros).
Calibã é um ator frustrado que trabalha como garçom junto com Charles. Para deixar as coisas mais interessantes, ele sempre finge, durante seu trabalho, ser um paquistanês que França e que não sabe nada de francês.
O livro ruma para que todos esses personagens se encontrem na festa de D’Ardelo, que é a maior descrição da insignificância e do tédio humanos.
Este foi meu primeiro contato com a escrita de Milan Kundera e, devo dizer, que por mais que o livro seja curto (136 páginas), ele não foi tão simples de ler. Talvez se você não parar para refletir sobre o que está sendo contado, talvez você leia o livro rápido, mas vai ficar com o sentimento de “acho que perdi algo, porque isso não fez muito sentido”. Em alguns momentos, precisei ler com mais calma, voltar, refletir sobre os parágrafos, sobre os capítulos (que são bem curtos), para entender o que o autor queria transmitir com aquilo.
O autor traz personagens tão cotidianos que podem ser histórias encontradas em qualquer esquina do mundo. Este ponto é interessante pois faz com que cada leitor interprete a história de uma forma diferente, a partir da aproximação ou distanciamento dos personagens com sua realidade. Pensando bem, geraria uma boa discussão em grupo sobre o livro, já que diversas constatações serão feitas de formas tão diferentes.

“A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças.”

Durante minha leitura, algo que me marcou foi a salientamento de como nosso probleminhas cotidianos, que parecem tão grandes e difíceis, são, na verdade, insignificantes e que essa insignificância faz de nós seres humanos. A insignificância está contida em nossa essência, em nosso dia-a-dia, como se fôssemos pequenas insignificâncias ambulantes que se reúnem, se aglutinam, formando a humanidade.

“A vida é uma luta de todos contra todos. (…) As pessoas não podem se atirar umas sobre as outras sempre que se encontram. Em vez disso, tentam jogar no outro o constrangimento da culpabilidade. Ganhará aquele que conseguir tornar o outro culpado.”

Outro ponto marcante, para mim, é quando nos deparamos com o que Alain chama de “desculpante”. Como é retratado a culpa em nossas relações sociais cotidianas. Durante a narrativa, Alain vai chegar ao ponto do porquê nos tornamos “desculpantes” ou não, e ele, em si, irá descobrir porque se tornou um.

“- O ser humano é apenas solidão.
– Ah, como isso é verdadeiro – exclamou a jovem D’Ardelo.
– Uma solidão cercada de solidões – acrescentou La Franck (…)”

Mas acima de tudo, a maior das reflexões que tive foi sobre a vida. Ou o que chamamos de vida. Em toda seu esplendor, em todas as suas insignificâncias e horrores, nas felicidades enormemente pequenas, que existe, tudo isso, dentro de um pequeno e insignificante ser humano. Somos tão completos e cheios de emoções e atividades, nos relacionando com tanta gente o tempo todo, mas no fim, somos só nós mesmos.

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Vocês já leram A Festa da Insignificância? Já leram alguma outra obra de Milan Kundera? Vamos conversar mais nos cometários.
BEIJÃO E ATÉ MAIS!

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