sobre livros e a vida

16/09/2016

Tá Na Estante :: ‘Apenas Um Garoto’ #574

E aí pessoal, tudo bem?

Hoje eu vim contar para vocês um pouco sobre Apenas Um Garoto, romance de Bill Konigsberg lançado no Brasil pela editora Arqueiro.

Livro: Apenas Um Garoto
Série:
Autora: Bill Konigsberg
Editora: Arqueiro
Páginas: 256
Sinopse: Rafe saiu do armário aos 13 anos e nunca sofreu bullying. Mas está cansado de ser rotulado como o garoto gay, o porta-voz de uma causa. Por isso ele decide entrar numa escola só para meninos em outro estado e manter sua orientação sexual em segredo: não com o objetivo de voltar para o armário e sim para nascer de novo, como uma folha em branco.O plano funciona no início, e ele chega até a fazer parte do grupo dos atletas e do time de futebol. Mas as coisas se complicam quando ele percebe que está se apaixonando por um de seus novos amigos héteros.

Um dos maiores perigos ao se escrever uma história de autoaceitação é que isso pode ser algo maçante e soar um pouco banal quando a mensagem de que “não há problema em ser quem você é” não é transmitida da maneira correta. Muitos livros conseguem transmiti-la com perfeição (David Levithan está aí para provar) e eu posso te garantir que esta obra não é um desses.
Em Apenas Um Garoto nós conhecemos a história de Seamus Rafael Goldberg, ou como gosta de ser chamado, Rafe. Ele é um jovem morador de Boulder que aos 13 anos resolveu sair do armário e desde então teve sua vida completamente redefinida por esse fato. Seus pais e amigos reagiram da melhor maneira possível. Porém, mesmo sendo completamente aceito por sua comunidade, Raffe que já estava cansado de ser visto apenas como o garoto gay e porta-voz da causa, decide deixar sua vida no Colorado e recomeçar do zero em uma nova cidade.

Para isso, Raffe decide se matricular na Natick, uma escola interna só para garotos no estado de Massachusetts, e manter sua sexualidade em segredo. O garoto não vê essa atitude como uma volta ao armário e sim como uma forma de não ser visto apenas como o menino gay da escola. Sua chegada no colégio foi extremamente tranquila e completamente inesperada. Raffe, que jogava futebol americano “mais ou menos bem” como ele mesmo dizia, imediatamente se identificou com o grupo de atletas e logo se tornou parte do time da Natick.
Mesmo aceitando o rótulo de atleta e se tornando parte do grupo que geralmente é o mais popular de qualquer escola, Raffe conseguia manter parte da personalidade daquele garoto que vivia no Colorado graças à amizade de Albie e Toby, dois garotos um tanto quanto estranhos e fissurados em programas de sobrevivência.
Tudo parece estar indo muito bem. Seus colegas, embora não tão inteligentes, não o enxergam como o garoto gay, ele não precisa viver na bolha de ativismo que o cercava em Boulder e de sobra ainda ganhou um novo melhor amigo, Ben, com quem pode ser ele mesmo (ou quase) sem medo de ser interpretado como o garoto estranho. Porém, não ser gay não é tão fácil quanto o garoto imaginou, pois além de se policiar antes de tomar qualquer atitude e ainda não ter a aprovação dos pais, Raffe percebe que sua amizade com Ben tem potencial para se tornar algo bem mais forte.
Com essa paixão inesperada e o início dos conflitos internos, Raffe precisa descobrir o que fará para manter seu segredo e não enlouquecer durante o processo.
– Estou cansado disso. Estou cansado de ser um garoto gay. Não quero mais isso para mim. Eu só quero ser, tipo um garoto normal.
Quando o Léo me chamou para perguntar se eu tinha interesse em ler Apenas Um Garoto, eu corri no Google para ver do que se tratava o livro e imediatamente bateu a curiosidade para saber como o autor tratou tal assunto. O livro chegou e eu já me apaixonei pelo kit que a editora Arqueiro me enviou (infelizmente não tenho mais a caixa) e a vontade de iniciar a leitura só aumentou.
Já no inicio do livro eu me deparei com uma narrativa simples, mas que conseguia se tornar um pouco maçante com apenas cinquenta páginas por ter uma escrita um tanto quanto pobre. Não é nada que já não tenhamos visto em outros livros YA, mas que mesmo assim consegue incomodar um pouco quem já leu livros de outros autores e que abordavam temas semelhantes. A narrativa em primeira pessoa pelo ponto de vista do Raffe é algo que consegue irritar até a mais tolerante das pessoas.
O livro conta com diversos personagens mas poucos deles receberam atenção suficiente para ter uma personalidade. Temos o Raffe, o “gay perfeito” e milimetricamente moldado pelos padrões aceitos pela sociedade. Albie e Toby, os “garotos estranhos” que foram colocados lá simplesmente para dar um pouco de humanidade ao personagem principal. Ben, o melhor amigo hétero que concorda com tudo dito/feito/imposto por Raffe da melhor maneira possível, assim como visto em nenhuma outra amizade na face da terra.
Com certeza os personagens que roubam a cena durante a leitura são os pais utópicos de Raffe e Claire Olivia, a sua melhor amiga. Isso não significa que os personagens são extremamente bem construídos e cativantes, eles simplesmente não aparecem o suficiente durante a leitura para que você possa perder o encanto por eles.
Eu iniciei a leitura com expectativas altíssimas, pois embora eu não apoie alguém deixar de ser quem é simplesmente para se encaixar em certo grupo, eu estava extremamente feliz em ler um livro em que o personagem conseguiria mostrar que você pode ser muito mais que apenas um título. Minha felicidade foi diminuindo durante a leitura ao perceber que Raffe não tinha problema algum em ser reconhecido por um título,  o problema vinha quando esse título era “o garoto gay”. Durante sua estadia no colégio, o garoto ficou conhecido como o novo Schroeder, atleta, o garoto que vomitou e até mesmo hétero, mas nenhum deles parecia incomoda-lo.
Como eu já disse, Raffe é um personagem criado para ser o gay perfeito aos olhos da sociedade. Isso fica mais claro quando o autor faz questão de ressaltar que Raffe se sente superior aos outros gays de sua cidade simplesmente por não carregar trejeitos femininos.
O final do livro não pode ser classificado como previsível e muito menos como surpreendente. A sensação que tive ao ler a última página foi de ter nadado, nadado, nadado e morrido na praia. A mensagem que deveria ter sido passada se perdeu no meio do livro e daí em diante a coisa toda virou um trem desgovernado.
A edição não deixa a desejar. A capa é fosca e tem verniz localizado nas bordas. O interior segue aquele padrão já conhecido da Arqueiro. Folhas amareladas, fonte, margens e espaçamento de bom tamanho. A revisão deixou passar uns dois errinhos bobos mas nada muito grande.
Apenas Um Garoto é um livro com um ótimo tema, mas com uma abordagem extremamente ruim e que pode não fazer muito bem para alguém que ainda não consegue se aceitar como é.
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