sobre livros e a vida

16/07/2015

Tá Na Estante :: ‘O Sol é Para Todos’ #415

Oi, gente. Tudo bem?

Olha eu de volta com mais uma resenha para vocês. O livro escolhido de hoje é um clássico da literatura norte-americana que teve sua continuação anunciada pela autora 55 anos depois do lançamento. A editora José Olympio, do Grupo Editorial Record, fez uma nova edição do livro e eu aproveitei para solicitar e finalmente ler. Bora conferir o que achei?!

Livro: O Sol é Para Todos
Autora: Harper Lee
Editora: José Olympio
Páginas: 364
Sinopse: Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça. O sol é para todos, com seu texto forte, melodramático, sutil, cômico (The New Yorker) se tornou um clássico para todas as idades e gerações. Com nova tradução e projeto gráfico, este clássico moderno volta à cena, justamente quando a autora lança uma continuação dele, causando euforia no mercado. Desde o anúncio de sua sequência, O sol é para todos é um dos livros mais buscados e acessados no site do Grupo Editorial Record. Já vendeu mais de 30 milhões de cópias nos Estados Unidos e, no último ano, ganhou a recomendação do presidente Barack Obama, que proferiu o seguinte elogio: “Este é o melhor livro contra todas as formas de racismo.”

Acho que essa é uma das resenhas mais difíceis que já precisei escrever em toda minha vida de blogueiro literário. O livro é um clássico da literatura norte-americana e não tem exatamente uma história em si. Não sei como explicar isso, mas vou tentar, eu juro.

O livro é narrado pelo ponto de vista de Jean Louise, a Scout. Ela é filha do advogado Atticus Finch e vive com o pai e o irmão mais velho, Jem, no condado de Maycomb, no Alabama. Scout está vendo sua vida mudando e não está exatamente satisfeita com isso. Jem está crescendo e se afastando dela, seu primeiro ano na escola está sendo um desastre e ainda por cima a sociedade diz que ela deve se comportar como uma dama.

Mas Scout não é uma dama. Ela é uma criança espevitada, que gosta de se sujar na terra, de visitar a srta. Maudie e brincar com Jem e o melhor amigo deles, Dill, que passa os verões com a srta. Rachel, sua tia, que é vizinha dos Finch. A brincadeira preferida das crianças é tentar fazer com que Boo Radley, um morador de Maycomb recluso há anos, saia de casa. Várias histórias são contadas sobre Boo, algumas verdadeiras, outras nem tanto, mas as crianças têm medo do homem.

A vida dos irmãos Finch vira de cabeça para baixo quando Atticus recebe a missão de defender um caso polêmico. Tom Robinson está sendo acusado de ter estuprado uma mulher e as questões desse caso estão bem dispersas. Tom é negro e a garota, de dezenove anos, por mais que pertença à família ralé da sociedade de Maycomb, é branca. Atticus acredita na inocência de Tom, mas isso não o impede de ser julgado como “adorador de pretos”. Inclusive as crianças precisam ouvir muitos desaforos dos habitantes da pequena cidade.

Jem e Scout defendem o pai a todo custo. Atticus é seu herói pessoal e vê-lo sendo desmerecido e destratado por sua própria vizinhança faz com que tudo seja ainda mais intolerável. E é isso que o livro aborda. O quanto o preconceito afeta cada pessoa.

Nessa sociedade do livro, estamos no início dos anos 1930. Temos muitas referências à cultura da época e fatos históricos, tais como os primeiros ataques de Hitler aos judeus. Nessa época, negros ainda eram tratados como escória. Recebiam apenas trabalhos que ninguém queria fazer, viviam em péssimas condições de moradia e em hipótese alguma poderiam se relacionar com os brancos. Tudo era separado. Cada raça tinha sua condução e até mesmo sua igreja.

Ver tudo isso sob a perspectiva de uma criança entre seus sete e nove anos, é algo notável. Scout é decidida, mas também é influenciável. Ela deseja agradar o pai e tenta ser mais como Jem, que é seu espelho, mas ouve muitas coisas dos vizinhos que afetam sua linha de compreensão. Gente, tentem explicar para uma criança dessa idade o que é um estupro e o que isso acarreta para quem o pratica.

A escrita de Harper Lee é leve e fluida e esse foi meu maior receio antes de ler. Como o livro é um clássico, eu esperava algo bem cult, repletos de metáforas e coisas além da minha compreensão. Mas não. O livro pode ter sido publicado no século passado, mas parece algo escrito nos dias de hoje e ainda reflete muitos assuntos da nossa sociedade atual.

Os personagens foram bem construídos, apesar de não termos real conhecimento da história de muitos. É aquela típica vizinhança, com a fofoqueira, o carrancudo, a simpática e etc.. Porém, como os conhecemos pela visão de Scout, muita coisa fica perdida devido à inocência da personagem em compreender certos aspectos. Acho que foi o primeiro livro adulto que li narrado por uma criança onde essa criança se comporta realmente como tal.

A relação da família Finch é linda de se presenciar. Jem e Scout brigam bastante, mas são muito próximos e apesar dos pesares, um faz tudo para proteger o outro. Atticus é um bom pai e acho que, depois de Scout, é meu personagem favorito. Ele cria os filhos sozinho, apenas com a ajuda da empregada Calpúrnia, e muitas vezes escuta que seu método de educação (deixar as crianças serem o que elas quiserem) não é correto. O sr. Finch se preocupa com a felicidade dos pequenos e não hesita em fazer o que puder para alcançá-la, mesmo quando se mostra distante.

Quando solicitei o livro, a capa foi um grande atrativo. Amei essa nova edição e espero que assim que a continuação seja lançada a editora não tarde em trazê-la nesse mesmo padrão. O único “problema” é a capa em material soft touch, que me dá muita agonia em segurar. A revisão está impecável, a diagramação é simples, as folhas são amareladas e a fonte é grande.

Em suma, O Sol é Para Todos é um livro que precisa ser lido por todos. Mais do que isso. Devia voltar a ser trabalhado em escolas e em projetos de cultura. Pode não ser um clássico da nossa literatura brasileira, mas traz muita coisa que se aplica à nossa cultura e merece maior enfoque. Eu com certeza recomendo.

Beijos e até a próxima!

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