sobre livros e a vida

10/03/2015

Tá Na Estante :: ‘A Herdeira das Sombras’ #374

Olá, turma!

Hoje estou aqui para falar de um livro que eu simplesmente não consigo tirar da cabeça. O dito cujo é o volume dois de uma trilogia que está dando o que falar dentre os fãs de literatura fantástica: A Herdeira das Sombras. Preparados para mais uma resenha?

Livro: A Herdeira das Sombras
Série: Trilogia das Joias Negras (#02)
Autora: Anne Bishop
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 480
Sinopse: Há 700 anos, num mundo governado por mulheres e onde os homens são meros súditos, uma profetisa viu na sua teia de sonhos e visões a chegada de uma poderosa Rainha. Jaenelle é essa Rainha. Mas mesmo a proteção dos Senhores da Guerra não impediu que os seus inimigos quase a destruíssem. Agora é necessário protegê-la até as últimas consequências. Três homens estão dispostos a dar a vida por Jaenelle. Mas há quem seja capaz de tudo para controlar ou destruir a Rainha. Conseguirá ela cumprir seu destino como detentora do maior poder que o mundo já conheceu?

ATENÇÃO! ESSA RESENHA PODE CONTER FORTES SPOILERS DE A FILHA DO SANGUE (RESENHA AQUI)
A Herdeira das Sombras segue a linha cronológica de A Filha do Sangue, começando exatamente onde o outro acaba. Assim, presenciamos as consequências da armadilha que Hekatah e Dorothea armaram para Jaenelle em Briarwood.
Jaenelle ainda está fraca, física e mentalmente. No final de A Filha do Sangue, Daemon conseguiu trazê-la de volta do Reino Distorcido apenas por tempo suficiente para que ela curasse parte de seus ferimentos. Logo após, ela mergulhou novamente na loucura dentro de sua própria mente.
Diante da situação, Saetan – o Senhor Supremo do Inferno e mentor de Jaenelle – recorre ao Conselho das Trevas e pede a guarda da menina para ele, assim ele a tira de perto dos pais biológicos e a leva para morar no Paço em Kaeleer.
O caos domina a vida dos homens SaDiablo durante o período em que Jaenelle fica imersa no Reino Distorcido. Saetan tenta protegê-la da melhor forma que encontra: espalhando o rumor de que a mesma está morta e caminha dentre as cildru dyathe – as crianças-demônio.
Mas uma coisa dá errado nesse plano: Daemon. Após tentar resgatar Jaenelle do Reino Distorcido, Daemon ficou muito debilitado – física e mentalmente – e não se lembra de muita coisa daquela noite, apenas do sangue. 
Assim, quando Dorothea faz Lucivar – seu meio irmão eyrieno – acreditar que Daemon matou Jaenelle, o mesmo acaba acreditando na mentira também. Daemon, achando que perdeu a única Rainha à qual sentiu vontade de servir, se joga novamente no Reino Distorcido e lá fica durante a maior parte do livro.
Dois anos após os terríveis acontecimentos de Briarwood, Jaenelle finalmente acorda. Mas, como Saetan logo nota, a criança-feiticeira está diferente. Pouco se vê da criança que um dia ela foi. Está mais reservada, mais fechada às pessoas e também mais obscura.
Ela não se lembra de praticamente nada do que aconteceu em Briarwood e no Altar de Cassandra, tendo esquecendo também da existência de Daemon. Saetan assume a função de pai, a guiando durante esse período até que ela esteja pronta para lembrar do que realmente aconteceu.
Paralelamente à vida de Jaenelle no paço dos SaDiablo, temos um núcleo se desenvolvendo ao redor de Lucivar. Em A Filha do Sangue, não vemos muito dele, já que ele foi aprisionado nas minas de sal de Pruul.
Após descobrir que Jaenelle estaria ‘morta’, ele consegue fugir das minas. E, como já era de esperar de um eyrieno escravizado, deixa um rastro de destruição para trás. Ele deixou de se importar com a própria vida. Tudo o que almeja agora é encontrar Daemon e o matar, como vingança pela suposta morte da Rainha que todos esperavam.
Porém, após ser encontrado quase morto por Jaenelle, ela o salva e ele passa a viver no Paço junto com a criança-feiticeira e o seu pai. É interessante ver a interação pai e filho de Lucivar e Saetan, já que Lucivar nunca havia convivido com o Senhor Supremo.
A escrita de Anne é fabulosa. Mãe Noite, essa mulher sabe como prender um leitor dentro do seu universo. A narrativa segue o mesmo padrão de A Filha do Sangue, alternando entre os três reinos – Inferno, Kaeleer e Terreile – e sempre em terceira pessoa.
O que mais me encanta na escrita apresentada nessa trilogia é a forma maestra com que Anne Bishop consegue englobar vários temas em uma história só. Temos todo o conflito político entre os territórios ao mesmo tempo que temos o romance sendo desenvolvido em outro núcleo. Ao meu ver, isso faz com que A Trilogia das Joias Negras seja uma leitura universal, que agrada a todos.
Outro ponto importante nesse livro foi a apresentação. Em A Filha do Sangue, Anne dá um tapa na nossa cara com um mundo obscuro, cheio de perversidades, assassinatos, estupros e até incesto. Realmente foi chocante e surpreendente a forma como ela apresentou todas as obscuridades dos reinos logo de cara. 
Na época em que li A Filha do Sangue, eu decididamente não estava esperando por aquilo, então a surpresa foi grande e até bem vinda. Quando comecei a leitura de A Herdeira das Sombras, esperava me deparar com a mesma apresentação, com as mesmas perversidades de obscuridades.
Adivinhem? Anne me surpreendeu de novo. Tudo o que nos acostumamos no primeiro livro acontece minimamente nesse segundo. Claro que a história não deixa de ser obscura, afinal essa é a proposta inicial da trilogia. Mas o foco em A Herdeira das Sombras está na disputa pelo poder.
O que mais vemos são os jogos de poder entre Hekatah e Saetan. O conflito político está lá, bem na nossa cara, nos desafiando a resolvê-lo. Conhecemos um pouco mais da índole de Hekatah nesse livro. A auto-proclamada Sacerdotisa Suprema do Inferno é uma das vilãs mais bem construídas que já me deparei.
A mulher simplesmente não tem escrúpulos. Não importa o que esteja no seu caminho, não importa em quem tenha que pisar e o que tenha que destruir, ela tem um objetivo e fará de tudo para alcançá-lo. Nem preciso dizer que adorei a personagem, não é mesmo?
Falando em personagens, esse foi o livro com os personagens mais bem construídos que me deparei na literatura fantástica (tirando O Senhor dos Anéis, é claro). Anne Bishop soube exatamente como moldar o caráter de cada um para que nos conquistasse logo de cara. É o tipo de livro que te deixa querendo ser a mocinha e suspirando pelos machos.
Um amigo me perguntou recentemente como eu descreveria essa trilogia. Após pensar muito eu respondi que ela é uma mistura do mundo fantástico de O Senhor dos Anéis (em questões de complexidade) com a brutalidade e perversão de Game of Thrones. E esse é justamente o público ao qual eu indico essa leitura. Se você é fã do tio Tolkien e está de dedos cruzados para o tio Martin não morrer antes de lançar o sexto livro das Crônicas: leia a Trilogia das Jóias Negras.
Se você não gosta do tio Tolkien e nem do tio Martin, leia mesmo assim, porque essa trilogia é diva. E, se você já leu, não se esqueça de surtar ali embaixo nos comentários. Mas já chega de encher o saco de vocês por hoje. Vou sentar ali no cantinho e encarar o vácuo até que A Rainha das Trevas seja lançado. Mas, antes, os deixo com uma citação desse livro que quebrou mais um pouquinho meu pobre coração de leitora.

Saetan se deteve a alguns centímetros de Jaenelle. Os olhos azul-safira encontraram os dele no espelho, e Saetan teve de se esforçar para manter uma expressão indiferente. Aqueles olhos. Límpidos e selvagens e perigosos antes de vestir a máscara de humanidade. E era uma máscara. Não era como a dissimulação a que se dedicava quando criança para manter em segredo o fato de ser uma feiticeira. Era um esforço deliberado para ser, simplesmente, humana. E isso o assustava.

Beijinhos e até a próxima!

Comentários

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Ei, eu sou a Barb, tenho 27 anos, sou baiana, estudei Letras e compartilho conteúdo desde 2010 na internet. Por aqui, escrevo sobre tudo que faz meu coração bater mais forte.

Se inscreva no meu canal do youtube

Além do meu amor pela leitura e pelas histórias de romance, eu compartilho vlogs sobre a minha rotina e trabalho, mostrando como é a vida de uma baiana morando em Madrid, na Espanha.

Ei, inscritos no Telegram

Faça parte do nosso grupo aberto e gratuito no Telegram. Lá os inscritos recebem novidades, conteúdos exclusivos, além de um podcast semanal (em áudio) sobre o que se passa na mente da criadora de conteúdo.

Telegram

Quer receber minha newsletter?

Vamos conversar mais de pertinho? Enviamos conteúdos semanais sobre assuntos mais intimistas: reflexões sobre a vida e situações cotidianas.