sobre livros e a vida

05/03/2015

Tá Na Estante :: ‘Dois Garotos se Beijando’ #371

Oi, gente. Tudo bem?

Olha eu aqui com mais uma resenha para vocês. Acredito que essa tenha sido a resenha mais difícil de escrever em toda minha vida literária e tenho certeza que não chegou aos pés do que o livro merece. Curiosos? Então vamos conferir!

Livro: Dois Garotos se Beijando
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
Páginas: 224
Sinopse: Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer. 

Como falar de um livro que mexeu extremamente com você? Nada do que eu posso escrever aqui vai se comparar ao que senti durante a leitura. Mas vou tentar passar uma parte disso para vocês.
Dois Garotos se Beijando é um livro sobre dois garotos que se beijam, é claro. Mas também não é. Narra a história de oito adolescentes, em fases diferentes da vida. Todos são gays, mas estão em vários estágios de aceitação perante si mesmos e a sociedade.
Tariq é um jovem resolvido quanto à sua sexualidade. Ele é gay e está bem com isso. Quer dizer, estava. Numa certa noite, enquanto esperava o pai ir buscá-lo na saída do cinema à noite, ele foi abordado por um grupo de jovens que o espancaram simplesmente por ser quem é. Não só seu corpo que foi ferido. Hematomas se curam com o passar do tempo. Depois desse dia, Tariq passou a ter medo. Ele ainda é o mesmo por fora, mas por dentro muita coisa mudou.  
Craig conhece Tariq, é claro, mas eles nunca foram amigos. Porém, após o ataque, Craig foi visitá-lo. Ao ver a situação do garoto, seus machucados e sua situação emocional, Craig se revoltou e decidiu que faria alguma coisa contra aquilo. Tendo isso em sua cabeça, Craig tem uma grande ideia. Quando criança, ele sempre foi fascinado pelo Livro dos Recordes e vê nessa sua paixão de infância uma chance de protestar. 
Para ajudá-lo, Craig recruta Harry, seu ex-namorado e melhor amigo, única pessoa que aceitaria essa loucura com ele. Craig quer quebrar o recorde de beijo de maior duração e para isso precisará beijar Harry durante 32 horas sem pausa. Imaginem, dois garotos gays no Livro dos Recordes, com uma forma tão pura e ao mesmo tão polêmica de sentir. É ao mesmo tempo um discurso contra a homofobia e uma expressão de amor.
Além disso, também conhecemos o casal Peter e Neil. A família de Peter sabe que ele é gay e o apoia imensamente. Amor é o que não falta para o garoto. Com Neil é um pouco diferente. Sua família também sabe de sua orientação sexual, mas não é algo escancarado como com Peter. Parece que o assunto é um tabu e Neil não se sente à vontade com isso. Seu amparo está em Peter, que sabe exatamente o que ele sente, mesmo sem que ele precise dizer.
Avery é transexual. Ele nasceu menino num corpo de menina e desde cedo seus pais o apoiam para que ele seja feliz, então o levam para fazer diversos tratamentos com hormônios e cirurgias para que possa finalmente ter a vida que merece. Numa festa gay, Avery conhece Ryan, um garoto de cabelo azul que lhe desperta atenção assim que entra no local. O interesse é mútuo e logo os dois estão dançando juntos e se envolvendo, uma promessa de algo bom no ar. Mas será que Ryan entenderia a condição de Avery? Esse medo assombra o garoto, mas ele sabe que a verdade é crucial quando se começa qualquer coisa.
Por fim, conhecemos o Cooper. Ele é um jovem de 17 anos que passa as madrugadas inventando novas personalidades em sites de relacionamento gay. Seu objetivo não é transar com esses homens, ele só se sente poderoso quando os homens o chamam para conversar, sente-se desejado, mesmo sabendo que aquele não é ele e sim um personagem. Porém, uma noite ele adormece sobre o computador e pela manhã, ao entrar no quarto, o pai vê as conversas do filho e não aceita, atacando-o com socos e ofensas. Com isso, Cooper sai de casa e passa a vagar pelas ruas, tentando entender o que se passa consigo e com sua vida.
Como disse anteriormente, esse livro é e ao mesmo tempo não é sobre o beijo. É e ao mesmo tempo não é sobre a homossexualidade. É e ao mesmo tempo não é sobre o preconceito. O que posso afirmar com certeza é que é um livro sobre a vida e do quanto perdemos tentando vivê-la da maneira que os outros julgam certas ou sendo quem não somos de verdade.
David Levithan mais uma vez me surpreendeu. Sempre ouvi Well falar sobre esse livro (seu lindo, obrigado por me apresentar esse cara. Te amarei eternamente), mas não esperava algo assim. O autor criou uma trama envolvente e ao mesmo tempo complexa e intrincada. Além disso, o autor apostou em um estilo de narrativa completamente diferente e que deu muito certo.
Pra começar, o livro não é dividido em capítulos. É um livro único que apenas intercala o foco entre os garotos. O mais interessante é que o livro possui um tipo novo de perspectiva. No decorrer da leitura entendemos que os narradores são homossexuais que morreram devido à AIDS, na época que o tratamento ainda não era eficaz e ter a doença era uma sentença de morte. 
Achei isso fascinante, pois há uma intercalação entre o antes e o agora, onde os narradores nos contam como era na sua época, quando a homossexualidade estava começando a ser aceita e apontam as diferenças para os dias de hoje. Além disso, toda a história é contada com uma visão panorâmica dos fatos, de forma que possamos avaliar totalmente a situação. Com isso, temos uma narrativa dividida em primeira, segunda e terceira pessoa, usando nós, vocês e eles.
O livro se passa em um pouco mais de 48 horas e nota-se que uma série de eventos importantes acontece nesse curto espaço de tempo. Assim como na vida, que às vezes não temos tempo para nos prepararmos para o que virá e somos pegos de surpresa por alguma reviravolta.
Os personagens foram muito bem construídos e é impossível não se identificar com ao menos um deles. Eu me vi um pouco em cada um deles, tanto nos protagonistas quanto nos coadjuvantes. Meu favorito sem sombra de dúvidas foi o Craig, que foi o responsável por mobilizar tanta gente pra levantar a bandeira contra o preconceito e mostrar que amor é amor, independente do tipo.
A Galera Record fez um trabalho ótimo com o livro. Eu, particularmente, gosto dessa capa que fizeram, mas gostaria ainda mais se tivessem mantido a original. A revisão está impecável, não encontrei nenhum erro. A tradução também está um show à parte, pois Regiane Winarski conseguiu manter a escrita poética do autor ao fazê-la. A diagramação é simples, a fonte e o espaçamento são ótimos e as folhas são amareladas.
Dois Garotos se Beijando é um livro que deve ser lido por todos, além de ser tratado em escolas para passar sua mensagem de liberdade e amor, que pode ser aplicada além do tema da homossexualidade. O livro tem o poder de te entreter e ao mesmo tempo te fazer pensar. Passei horas após virar a última página pensando em tudo que aconteceu e o quão real isso é. Mesmo agora, um dia depois, ainda estou emocionado e tentando entender o mundo e querendo ajudar a transformá-lo. Com certeza recomendo para vocês.

Há milhões de beijos para serem vistos, milhões de beijos a um clique de distância. Não estamos falando de sexo. Estamos falando de ver dois garotos que se amam se beijando. Isso tem muito mais poder que o sexo. E mesmo se tornando lugar-comum, o poder ainda está presente. Todas as vezes que dois garotos se beijam, o mundo se abre um pouco mais. Seu mundo. O mundo que deixamos. O mundo que deixamos para vocês. Este é o poder de um beijo. Ele não tem o poder de matar você. Mas tem o poder de trazer você à vida.

Beijos e até a próxima!

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