HEY, MATES! TUDO BEM?
Ler Jane Eyre era uma das minhas metas nesse ano e eu me arrependo de não ter investido nessa leitura antes.
O livro conta a história de Jane Eyre – obviamente, haha -, uma jovem órfã que viveu uma infância difícil regada de privações e sem carinho algum de sua tia, sua única parente ainda viva. Após um conflito, ela é enviada para um internato, onde recebe uma educação de primeira e, mais tarde, um emprego.
Suas qualificações são altas e ela não se prende às conveniências da época. Alçando por novos desafios, ela deixa o internato para se tornar governanta de uma menininha, Adèle, protegida de Mr. Rochester. A afeição de Jane pela menina cresce, como também o interesse e paixão arrebatadora entre ela e Mr.Rochester, mas tal amor encontra um empecilho guardado em forma de um segredo.
O romance é impecável. Por muitos momentos, eu me peguei agarrada ao livro em um conflito de amor pela história e ódio por Charlotte colocar Jane nas situações mais odiosas e brutais. O fato de Charlotte ter nascido poucos anos antes da morte de Jane Austen leva os estudiosos a acreditarem que ela pode ter tido a sua escrita influenciada pela conterrânea e isso é perceptível na sua protagonista de caráter marcante, um coração puro e bom e interesse no que há além do que seus olhos podem ver.
Em uma primeira lida, Jane e Elizabeth poderiam ser amigas e compartilhar dos seus sonhos. Por outro lado, suas vidas se separariam brutalmente. Diferente de Lizzie, que lidou com a maldade e intriga humana com sua personalidade já definida, Jane era apenas uma menina quando precisou lidar com a falta dos seus pais e o descaso e inveja da sua única parente viva.
A solidão tornou-se sua amiga e a menina acostumou-se a ela nos anos no internato. Seu desejo por ver o que há além do que seus olhos alcançam não era arrogância, mas nada mais do que o seu desejo de encontrar seu lugar no mundo.
Mr. Rochester é o paralelo dessa trama. Ele é um homem vivido, um tanto entediado e muito rabugento. Ele tem experiências diferentes das vividas por Jane, mas ele pode compreender as suas amarguras e pesares por não serem tão distintas das vividas por ele. Talvez, isso tenha aproximado eles de algum modo. Suas almas se reconheceram em suas cicatrizes. A aproximação deles é calma e contida, por ambos os lados, e implode de um modo que não arrebata apenas Jane, mas também, a nós leitores.
Eu me peguei torcendo por Jane durante toda a sua trajetória. Seu sofrimento e luta eram palpáveis para mim a ponto de eu precisar parar a leitura e lidar com aqueles sentimentos revirando em mim. Eu me reconheci um pouco em suas escolhas e caráter e foi difícil ler a sua história sem me comover.
O enredo tem reviravoltas, por ora esperadas, mas suas consequências e resoluções são pontuais, inesperadas e reveladoras de um modo que eu me peguei bestificada pela construção da história desenvolvida pela autora.
Para a época, ela utilizou de artifícios (reviravoltas, um protagonista dito como velho e feio, clímax, suspense entrelaçado ao romance, o que dava até um tom misterioso) que em um romance não era algo tão comum. Inclusive, Jane Austen, a quem ela é tão comparada, pouco utilizava do clímax e suspense para movimentar seus romances, optando pelo crescimento temporal da narrativa, o que funcionava muito bem com romance romântico.
Os personagens são um diferencial à parte na trama. Todos tem defeitos, falhas, qualidades distintas e histórias marcadas por pesares, perdas e erros. Ninguém tem uma intenção pura e um coração intocado, todos sofreram algum mal que os moldaram para se tornarem a pessoa que eles são, sejam elas boas ou não. Ninguém faz maldade por fazer, existe um motivo que, por muitas vezes, está marcado em seu caráter.
O trabalho da editora Nova Fronteira está incrível. A coleção da Biblioteca Áurea tem clássicos da literatura mundial e cada um se destaca à sua maneira. A qualidade é impecável. A capa é linda e conversa com a narrativa. A revisão está no ponto e casou bem com a linguagem da autora. A tradução de Sodré Viana consegue transmitir bem as palavras de Charlotte sem perder sua voz.
Recomendo Jane Eyre para os amantes de um romance duro, apaixonante e profundamente humano.
Um beijão da Bárbara Herdy.