sobre livros e a vida

30/09/2017

O que faz um tradutor?

Oi, gente. Tudo bem?

Hoje, dia 30 de setembro, é o Dia Internacional  da Tradução. Graças aos tradutores que temos nossas séries favoritas estrangeiras sendo lançadas aqui  no Brasil. E pra comemorar esse dia, convidei a tradutora Regiane Winarski pra falar um  pouco mais sobre a profissão dela. Vamos conferir?!
1- Quando você percebeu que tradução era sua paixão?
Eu já me interessava pelo assunto desde a adolescência, mas não achava que fosse uma área de trabalho viável pra mim (nem sei bem por quê). Na faculdade de Produção Editorial, me interessei mais e até fiz minha monografia sobre tradução, mas acabei abandonando a ideia e fui dar aulas de inglês, pois precisava ganhar dinheiro pra seguir a vida com independência. Só quando minha filha nasceu e eu considerei parar de trabalhar fora foi que decidi correr atrás do sonho, estudar sobre o assunto e procurar trabalho. Nesse ponto, já era um amor sem volta.

2- Qual a parte mais difícil no processo?
Tem duas coisas que considero difíceis. Uma é ter disciplina diária para resistir à minha cama, à Netflix, aos livros da fila de leitura. Outra é trabalhar com livros mal escritos. 

3- Você trabalha em mais de um livro ao mesmo tempo? Se sim, já aconteceu de confundir as histórias?
Sempre trabalho com mais de um ao mesmo tempo, é a melhor fórmula pra mim, pra aumentar a produtividade e afastar o tédio. Fazer pequenas partes de cada um por dia me deixa mais alerta, mais interessada, e eu rendo mais. Eu nunca confundi histórias, minha cabeça funciona bem pra compartimentalizar essas coisas. E às vezes acontecem umas coincidências engraçadas, tipo dois livros com personagens com o mesmo nome ou que se passam no mesmo lugar.

4- Qual seu trabalho favorito? E o mais difícil de realizar? E qual autor você ainda gostaria de traduzir?

Perguntar trabalho favorito para um tradutor é quase a mesma coisa que perguntar qual é o filho favorito para uma mãe! Eu não saberia responder isso, mas amo muito os trabalhos sobre diversidade, os que falam de questões importantes, os que abordam temas polêmicos.
O mais difícil… bom, um deles sem dúvida foi It – A coisa, não pelo motivo que todo mundo pensa, rs. Foi difícil primeiro porque tem cenas pesadíssimas de coisas como homofobia, racismo, violência doméstica, violência infantil, e também porque é um livro com o qual eu já tinha uma ligação antiga, desde a minha adolescência, de um autor de quem sempre fui fã – e minha primeira tradução dele. Demorei 9 meses pra traduzir aquele livrão, tentando dar o melhor e produzir um texto verdadeiro e fiel.
Tem alguns autores que eu gostaria de traduzir um dia, mas de cara me lembro da musa diva da p… toda, JK Rowling, e do filho do King, Joe Hill. Esses dois ainda são minha meta. Quem sabe um dia, né?

5- Quando você recebe uma proposta de tradução, o que você pesa pra aceitar ou não?
O que mais pesa MESMO é o prazo. Raramente aceito prazos apertados demais, a não ser em casos específicos, como lançamentos simultâneos de autores que eu conheço/gosto. Às vezes o tema e autor pesam também. Mesmo quando estou meio enrolada, quando me oferecem um livro de um autor maravilhoso ou de um tema interessante, acabo aceitando (e tenho que dar nó em pingo d’água pra dar conta de tudo, mas encaro.)

6- Você se tornou a tradutora oficial de nomes como Stephen King e David Levithan. Qual a sensação?
Aahh, eu não diria tradutora oficial, mas com algumas recorrências. O King é um autor maravilhoso, de quem sou fã desde que tinha meus 13/14 anos (tem tempo isso!), e nunca imaginei que seria responsável por traduzir alguns livros dele um dia. É motivo de um orgulho que não cabe no peito, sensação de conquista de um sonho mesmo. O Levithan é um autor que eu não conhecia, mas por quem me apaixonei quando comecei a traduzir. Ele é incrível, escreve bem demais e aborda temas interessantes e importantes. Eu amo cada livro dele. Ele é um desses autores que eu sempre aceito traduzir quando me oferecem, por mais encrencada de trabalho que esteja.

7- Na tradução das cenas eróticas, como funciona a parte da escolha nos nomes utilizados? Convenhamos que vemos umas coisas bem bizarras por aí. Como é traduzir palavras específicas do inglês nesse momento sem que fiquem embaraçosas ou bizarras no português?
Ai, é tão difícil! Eu não gosto muito de traduzir cenas eróticas, acho que tudo fica ou meio brega, ou meio grosseiro. Eu tento seguir o padrão utilizado pelo autor. Quando os termos usados são mais floreados, eu tento florear também. Quando o autor é seco e direto, procuro fazer igual. Mas tenho que confessar que nem sempre gosto do resultado.

8- Como é a adaptação das falas quando a tradução literal não faz muito sentido em português? Você tem autonomia pra mexer nisso ou só o editor?

Ah, eu tenho autonomia pra mexer, sim. Depois o copidesque vai alterar o que achar necessário, e o editor vai ver essa alteração feita pelo copi em relação ao que eu escrevi e vai bater o martelo. Mas eu acho importante a gente tentar deixar a fala mais natural pro leitor brasileiro, sem perder o tom original do que o autor disse.
9- Quando você traduz alguma gíria do país de origem, pensa em gírias brasileiras do momento para usar no lugar ou vai para um lado mais formal?
Gírias são um problema, porque a gente não tem como saber que gíria brasileira vai passar rápido demais e que gíria vai ser lembrada daqui a cinco, dez anos (mesmo que não seja mais usada). Eu procuro escolher palavras mais pra coloquiais ou gírias “consagradas”, pra tentar fugir de deixar o livro datado ou regionalizado demais. Convenhamos, o nosso país é enorme e nem toda gíria é usada nele todo, e não é legal o leitor de Natal ou de Campo Grande ler uma gíria que não conhece porque é só usada no Rio ou em São Paulo, por exemplo.

10- Por fim, E a experiência de ler em primeira mão livros que estamos aguardando há tempos… Não dá vontade de jogar na cara das amiguinhas que você tem o melhor emprego do mundo? HAHA.
Hahaha, isso acontece às vezes. Mas nem todos os livros eu leio em primeira mão. Alguns já foram publicados lá fora e tem gente que lê em inglês (ou traduzido pra outras línguas) e já conhece a história. Mas, nos casos de livros novinhos, mais ainda os de lançamento simultâneo ou quase, fica um sentimento exultante e frustrado ao mesmo tempo. Frustrado porque não tenho com quem conversar sobre as histórias, e às vezes fico louca pra trocar ideias com alguém. Especificamente, no caso de Belas Adormecidas, do Stephen King, que está saindo agora lá nos EUA e sai em outubro aqui no Brasil, eu quase fui à loucura. Eu li um livro do meu autor ídolo antes até dos leitores dele até nos EUA!! Isso nunca tinha acontecido (bom, aconteceu um pouco com Último turno, mas foi mais evidente no Belas adormecidas porque eu terminei a tradução muito antes do lançamento lá fora). Eu realmente acho o melhor trabalho do mundo.

Beijos e até a próxima!

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