Cidades Afundam em Dias Normais nos traz a história da cidade de Alto do Oeste, um pacato lugar no meio do cerrado brasileiro. Acontece que esse lugar, aos poucos, começou a submergir e as pessoas que lá viviam foram obrigadas a deixar suas casas, até que o local foi completamente envolto por água. Dezesseis anos depois, uma seca severa atinge o cerrado e Alto do Oeste começa a ressurgir e com isso traz várias lembranças a quem lá vivia.
Kênia Lopes é uma fotógrafa que vivia em Alto do Oeste e decide voltar ao lugar, acompanhada de seu amigo argentino, Facundo, com a ideia de fazer um documentário sobre a ‘Atlântida do Cerrado’, entrevistando os moradores que também estão retornando em busca de retomar suas vidas e reviver suas memórias de antes de a cidade afundar.
É a partir disso que a história se desenvolve. Vamos acompanhar através dos olhos dos moradores e da própria Kênia todas as mudanças que Alto do Oeste sofreu e causou, intercalando passado e presente, como se fosse realmente uma exposição, onde a parte da Água traz as memórias e a parte da Seca traz as consequências.
“Se Alto do Oeste afundou, foi para que a gente pudesse contar histórias de esperança.”
Confesso a vocês que eu não sabia muita coisa sobre esse livro, até recebê-lo de cortesia da editora Rocco. A capa é simples, mas muito bonita e foi o que me chamou atenção de início. Coloquei o livro na estante, com a intenção de lê-lo algum dia. Mas então as resenhas começaram a pipocar blogosfera afora e as críticas eram muito positivas. Resolvi dar uma chance e não me arrependi.
A escrita de Aline Valek é muito gostosa. A autora conseguiu apresentar toda sua proposta e seus personagens de uma forma dinâmica, que instiga o leitor a querer saber mais e o prende na narrativa. O livro tem pouco mais de 200 páginas, mas devo dizer a vocês que nem percebi as páginas passando, eu só queria mais e mais dessa história.
Outro ponto bastante positivo foi o estilo de narrativa utilizado pela autora. Temos relatos em primeira e terceira pessoa, além de cartas, e-mails e diários. O melhor é que todos trazem seu estilo de linguagem próprio, como se fosse realmente escrito/falado pelas pessoas de verdade, com seu próprio vocabulário. E não posso deixar de falar sobre as referências aos anos 90, que me causaram tremenda nostalgia.
“Submersas por muito tempo, as memórias ganham a mesma consistência dos sonhos. A realidade se borra, a lógica do como e dos porquês escorrega, as motivações se perdem.”
Por fim, Cidades Afundam em Dias Normais foi uma grata surpresa. Finalizei o livro com várias coisas na cabeça, como se eu mesmo estivesse presente em Alto do Oeste. Sendo assim, deixo aqui minha recomendação a todos. Certamente vou em busca de ler mais da autora, que já publicou As Águas Vivas não Sabem de Si, alguns anos atrás pela Rocco. Se joguem nessa leitura!