sobre livros e a vida

28/08/2019

Tá Na Estante :: ‘Cujo’

Cujo é um livro que foi escrito por Stephen King em 1981 e publicado no Brasil em dezembro de 1983, pela Editora Record, com o nome de Cão Raivoso. A obra chegou à lista de mais vendidas do país na época e, desde então, tornou-se um título raro de se encontrar, já que nunca mais havia sido comercializado. Até que, em 2016, a nossa querida Editora Suma de Letras relançou-o, em formato especial, numa edição lindíssima de capa dura e com direito a extras. Essa edição faz parte da nova série “Biblioteca Stephen King”, coleção que a Editora pretende montar publicando vários exemplares do autor que já estão esgotados no Brasil.

A primeira vez que tive contato com Cujo, não foi exatamente através da leitura, mas da sua adaptação cinematográfica. A trama me fascinava muito, pois sempre fui fã de terror e quando o li na minha adolescência, foi para esclarecer melhor alguns aspectos do filme e, também, porque considero a escrita de King realmente sensacional. A narrativa de Cujo tem como cenário uma pequena cidade fictícia, localizada na zona rural do Maine, chamada Castle Rock. Nesta cidadezinha, os habitantes viviam em paz, apesar da história de assassinatos ocorridos na década de 1970 assombrarem a região.

Castle Rock parece ter superado Frank Dodd, o serial killer autor desses crimes. No entanto, existe alguém que não dorme tranquilo por lá: Tad Trenton. O menino de apenas 4 anos tem um monstro em seu closet e ele, todas as noites, abre a porta do armário e observa Tad com seus olhos vermelhos. Os pais de Tad, Donna e Vic, acreditam que esta fantasia não passa de um medo de criança e se convencem – e tentam persuadir o menino – de que o monstro não passa de um bicho de pelúcia sentado acima de uma pilha de cobertores que fica dentro do roupeiro.

Aparentemente, a família Trenton tem uma vida perfeita e feliz. Donna e Vic são um casal jovem, apaixonados um pelo outro, possuem uma boa casa, amam o seu filho Tad e nunca tiveram uma crise no relacionamento. Porém, Donna começa a se sentir muito solitária e passa a ter medo de ficar em casa e, tentando aplacar esses sentimentos, acaba por se envolver com Steve Kemp. Esta relação só traz malefícios para Donna que, em vez de ficar mais satisfeita, acaba por se sentir dominada pela culpa.

Além desses personagens, no enredo também temos a participação da família Camber: Joe, o mecânico, Charity, sua esposa, Brett, seu filho e o cachorro de estimação Cujo, um são-bernardo muito dócil. Importante salientar aqui que Stephen King descreve não apenas o cenário em que cada personagem está inserido neste contexto, mas nos mostra também seus sentimentos, seus desejos, suas conquistas e seus temores.

A forma de King desenvolver os personagens é muito envolvente, já que ele faz do leitor um verdadeiro confidente, na medida em que nos identificamos com as suas criações, com seu cotidiano e com seus pensamentos. A partir de um certo momento, a vida de Vic parece dar uma reviravolta. Sua empresa de publicidade está enfrentando diversas dificuldades e, para piorar, Steve envia um bilhete em cujo texto ele revela ser o amante de Donna.

Vic viaja para Boston e, o tempo em que está fora, Donna percebe que precisa urgentemente consertar o seu carro. Donna liga para a casa dos Camber e, como eles não atendem às ligações, resolve dirigir até lá com Tad para solicitar o conserto do veículo. Quando Donna chega aos Camber, seu carro simplesmente apaga e, ao mesmo tempo, o monstro do closet de Tad aparece para aterrorizá-los na forma de um cão.

No decorrer das páginas observamos a angústia de Donna, encurralada pelo cão e por suas frustrações. É impossível não ficarmos ansiosos tentando entender como a personagem pretende sair dessa situação e se ela vai conseguir solucionar o problema. King, como sempre, consegue deixar o leitor completamente mergulhado na sua escrita. O autor tem essa grande habilidade de fazer o nosso psicológico ficar abalado, trabalhando com os nossos pavores e revelando o lado mais assustador do ser humano.

A narração em terceira pessoa e os diferentes pontos de vista do enredo são realmente muito instigantes, já que o leitor pode deparar-se até com a perspectiva do cão com raiva. Aliás, isso é interessantíssimo. Ler os pensamentos caninos de Cujo e acompanhar a sua transformação devido à doença – raiva – que avança, é simplesmente fantástico! Não entrarei em detalhes sobre essa parte, que considero uma das melhores, para que vocês possam aproveitar a experiência da leitura. Mas já aviso: são momentos de muita emoção!

Cujo é uma das obras que eu recomendo muito para quem quer se aventurar na escrita de Stephen King. Seu texto é realmente perturbador e vale cada página.

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