Stephen King tem um dom. Ele consegue pegar uma história que até então é conhecida por um elemento e transforma isso com o seu toque, dando a ele uma nova narrativa e um novo efeito sobre o leitor. O efeito King.
Isso fica claro em Celular. Essa história tinha tudo para ser uma história sobre zumbis como outra qualquer: um vírus implode e modifica a sociedade que era conhecida até então, colocando os protagonistas em risco. King consegue trazer a tona um aspecto claustrofóbico para a nossa sociedade: o que aconteceria se aquilo que nós temos como parte de nós, nos aniquilasse?
O autor escolhe o celular como o precursor e ele se espalha mais rápido do que qualquer outro vírus ou bactéria mortal. Aqueles que não tem um ou tiveram a sorte de não atender a ligação mortal sobrevivem a esse mal e dentre essas pessoas nós temos os nossos protagonistas: Clay, Tom e Alice.
Clay estava para retornar para casa quando o incidente desconhecido acontece e ele assiste horrorizado as pessoas se transformando em criaturas selvagens e atacando uma as outras. O destino coloca Tom no caminho dele que também está perdido no meio desse caos, tentando sobreviver e entender o que raios está acontecendo.
Buscando segurança, Clay leva Tom para o hotel onde ele estaria hospedado caso o mundo não estivesse desabando. Alice surge precisando de ajuda e mesmo temendo que ela seja um deles, eles a ajudam e a levam para a proteção do hotel.
Desse momento em diante, o trio se une para sobreviver e acabam no caminho descobrindo novos sobreviventes que, como eles, tentam entender o que aconteceu e também lidar com a dor da perda dos seus entes queridos. Isso leva o trio a torna-se alvo do líder dos fonáticos, como as criaturas são chamadas.
Os personagens são agradáveis e atraentes cada um do seu jeitinho distinto. Clay é o protagonista da narrativa e está concentrado em cruzar o país para reencontrar a sua família. Ele não é o mais esperto do trio, mas é o mais corajoso e determinado. Alguns pensamentos do personagem sobre a Alice me incomodaram, por soarem um tanto machistas, o que me atrapalhou para ter simpatia por ele.
Isso já não rolou com Tom e Alice. O Tom é uma fofura. Esperto, inteligente, engraçado e protetor. Ele é aquela pessoa que no fim do mundo você teria sorte de encontrar. Ele é puro, humano e o seu foco é manter o grupo unido e protegido. Alice é a jovem impulsiva dominada pelas suas emoções. Ela tem muita raiva, mas também sente por demais e ela não sabe como extravasar isso, seja apertando um sapatinho de um bebê desconhecido ou queimando uma horda.
São personagens carismáticos, você torce para que eles sobrevivam a todo o caos que os cerca e a qualquer sinal de perigo você deseja proteger eles em uma bolha. Só que elas estouram…
A escrita de Stephen King está no ponto. Ele não exagera na descrição, nas informações e também não te dá as coisas com as lacunas para preencher. Tudo que é entregue na história é o necessário para você embarcar nessa jornada. A escrita dele flui deliciosamente e você se sente seduzido pelos personagens e em desvendar o que acontecerá com eles. O clima de suspense é presente a todo instante, como o sentimento de perigo constante.
Para amantes de histórias de apocalipse com zumbis, Celular é uma pedida criativa e cativante. Não tem como errar.