Depois do final desesperador de Era uma vez no outono, bateu um desespero pra saber o que Evangeline ia aprontar. Como assim ela perdeu o juízo e propôs casamento ao cara que raptou sua amiga e noiva de seu melhor amigo? Foram meses com aquela dúvida na cabeça, o que a levou a uma atitude tão absurda. Pois bem, Pecados no inverno chega trazendo todas as respostas.
Evangeline precisa fugir da casa dos tios rápido. Toda a timidez e gagueira são reflexo dos maus-tratos sofridos em casa. Seus tios a maltratam física e psicologicamente, deixam sem comida e privam de amor. Quando se vê em um beco sem saída, enxerga uma opção – ainda que aparentemente surreal – no casamento com Sebastian. Ele, por sua vez, tem nome, status e fama de libertino, mas suas finanças andam de mal a pior por causa da má administração do pai e precisa urgentemente casar-se com uma esposa rica para manter seu padrão de vida. Um perfeito casamento por conveniência está formado.
O trato é simples: eles se casam e consumam o casamento. Ele garante a fortuna, mas reserva a ela uma parte do dinheiro; ela promete fazer vista grossa às escapadas dele; sexo nunca mais depois da noite de núpcias. Tudo muito claro desde o início. Mas vocês já sabem que não dá pra mandar no coração, né? Muito menos nos hormônios.
O livro já começa eletrizante, com a fuga de Evangeline da família para o casamento apressado. Nos primeiros capítulos já temos tensão, início de romance e cenas quentes. Um começo bem interessante que prende o leitor e deixa desesperado pra saber o que, afinal, dará errado mais pra frente pra ser o clímax.
Evie não é aquela mocinha que faz a diferença. Seu sofrimento fez com que ela se retraísse e não desenvolvesse habilidades sociais. Tímida, gaga e nem um pouco autoconfiante, ela se vê aquém dos outros pelo seu histórico de rejeição. Por isso mesmo, se contenta com muito pouco e valoriza as pequenas coisas.
Sebastian é aquele clássico libertino que se preocupa com o próprio prazer e cria um escudo contra sentimentos. Além de lidar com a novidade de um casamento, os acontecimentos o farão enfrentar Westcliff e Lilian, o casal que tentou destruir há pouco. Será mais do que uma mudança emocional, mas de valores e conceitos até então desprezados por um nobre mimado a vida inteira. Não há mudanças milagrosas, ele precisa passar por uma provação antes de dar o braço a torcer. No fundo, ele é aquele tipo de pessoa que tem um coração bom, mas manter as aparências é muito mais prático.
O romance não é rápido nem arrebatador, mas daqueles construídos sob a pressão das dificuldades. Evie não possui qualquer ilusão sentimental com relação ao marido, mas, depois de ser rejeitada por todos que deveriam cuidar dela, os pequenos gestos de preocupação oferecidos por Sebastian acabam amolecendo seu coração contra sua vontade. Do outro lado, Sebastian se surpreende com a força de Evie, a quem sempre julgou frágil e desinteressante. O jeito amedrontador com que a olhava não era nada perto dos maus-tratos que Evie havia sofrido, por isso era fácil pra ela se manter impassível. Além disso, ele foi uma solução para que obtivesse liberdade. De que adiantaria se abaixasse a cabeça para concordar com tudo que ele determinava?
A capa da edição pop chic da Editora Arqueiro ficou incrível e evidencia bastante os cabelos ruivos e as sardas de Evie, então relacioná-la com a modelo ao olhar se torna fácil. Ah! Quem já leu Os Hathaways, outra série da autora (já publicada pela Arqueiro), vai se surpreender com um personagem aqui. Por alguns instantes de desilusão, shippei ele e Daisy, mesmo sabendo que não poderiam ficar juntos (já que o tal personagem faz parte da outra série, né? rs).
Depois de não atingir as expectativas com o livro anterior, Pecados no inverno voltou para nos arrebatar. A história tem sua cota de surpresas e previsibilidade, mas consegue agradar os fãs do gênero com todos os elementos que nos fazem suspirar. Mal posso esperar por Escândalo na Primavera, o desfecho da série e o final feliz da caçula das Flores Secas. Já ansiosa pra saber se Daisy irá encontrar “um homem bom, que goste de longas caminhadas e livros e seja adorado por cães e crianças”. Missão difícil, mas não impossível para Lisa Kleypas.