sobre livros e a vida

10/12/2020

O Timbre, de Neal Shusterman

Perdura afundou e, junto com ela, todos os maiores integrantes da Ceifa, assim como os seus diamantes e parte de sua história, foram parar nas profundezas do Oceano. Nimbo-Cúmulo presenciou aquela atrocidade sem nada poder fazer, e seu lamento foi ouvido pelo mundo inteiro. Ela até não podia interferir nos assuntos da Ceifa, mas como uma boa mãe que tenta dar uma lição de moral nos filhos, culpou a humanidade por aquela perda e, assim, taxou a todos de Infratores, e se recolheu em sua nuvem virtual, silenciando-se.

Aquele silêncio imposto por ela foi a maior punição que cada um podia receber. Ninguém estava acostumado a não poder acessá-la, a conversar com a Nimbo e até pedir seus conselhos. A partir disso, as pessoas começaram a ficar confusas e foram gradativamente perdendo seus propósitos e o rumo da vida.

Goddard, ao contrário da maioria, estava radiante! Sem os Alto Punhais para controlar a Ceifa, viu a oportunidade perfeita para se tornar um líder, e com a sociedade sem direção, passou a guiá-la com punho firme e com base no medo. Todos os seus sonhos estavam se tornando realidade, e a meta de unir todas as Ceifas sob seu único comando, estava cada vez mais próximo.

Porém, o Honorável Ceifador Faraday e sua amiga Munira, não iam descansar enquanto não encontrassem uma solução para a corrupção que se espalhava cada vez mais dentro da Ceifa. Assim, partiram os dois para a lendária Terra de Nod, em busca de respostas.

Enquanto isso, os Tonistas, uma religião que ganhava cada vez mais adeptos, elegeu seu mentor, o único que ainda era capaz de se comunicar com a Nimbo-Cúmulo, a quem passou a ser chamado de Timbre.

Mesmo sem querer, Vossa Sonoridade inspirou atos violentos em seus seguidores, que por pura revolta, começaram a matar diversos Ceifadores. E com isso, uma guerra civil foi instaurada em um período que deveria ser pacífico e um exemplo de perfeição para todos.

Com o ressurgimento da irracionalidade e da violência, Nimbo-Cúmulo, apesar de distante, precisava tomar uma providência e, assim, com a ajuda de Grayson, tramou um plano que definiria o futuro da humanidade.

Em meio a muitos conflitos e mortes, duas figuras icônicas ressurgiram das cinzas e se tornaram o símbolo do desejo de mudança no coração da população.

Porém, seriam os humanos, com todos os seus defeitos e imperfeições, capazes de mudar e restaurar a ordem? Ou, com seus atos vaidosos e seus desejos de poder, acabariam de vez com tudo aquilo um dia construído?

Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!

***
Terceiro e último volume da trilogia, O Timbre veio para abalar toda ordem mundial. Com uma escrita em terceira pessoa, super fluída, Neil nos apresenta diversos dramas vividos por cada um dos personagens, de maneira intercalada, mas que se entrelaçam e, por isso, vão alterando os seus destinos.

Diferente das outras obras, aqui, curiosamente, a estrela é a Nimbo-Cúmulo, a governante virtual que se expandiu tanto, que não só se tornou uma consciência, como também passou a ser senciente.

Adorei a forma como o autor me fez refletir a respeito da tríade apresentada: Timbre, Trovão e Tom, – elementos da fé Tonista -, fazendo uma alusão à Santíssima Trindade.

Foi impossível não acompanhar a trajetória da Nuvem, questionando se foi assim com Deus também, pois torna-se evidente seu cuidado e amor por nós, mas a sua necessidade de se distanciar e nos deixar aprender com os nossos próprios erros, mas sem nunca parar de nos observar e de torcer pelo nosso sucesso. Assim como foi palpável seu sofrimento, principalmente por saber que não podia agir em nosso nome ou evitar que problemas acontecessem, para não quebrar as suas próprias Leis e não corromper a si mesma, decaindo ao nosso nível.

Também foi muito interessante refletir acerca de um mundo utópico, em que a perfeição impera e que tudo é sempre resolvido e nos dado praticamente de mãos beijadas. Seria isso de fato possível se delegássemos a nossa existência, imortal, a um Ser superior a gente, ouvindo e fazendo tudo o que Ele nos diz? Seríamos nós, imperfeitos em nossa natureza, capazes de viver em um mundo de perfeição?

Essas e outras reflexões foram me surgindo no decorrer da leitura, que também me promoveu muita tensão e alguns pesadelos com mortes, é claro.

O final, apesar de ser emocionante, me frustrou muito, por ter sido aberto, e principalmente por saber que não haverá uma continuação e que não saberei o que vai acontecer. Mas de certo modo é assim a vida.

Para quem gosta de distopias, esta série é de leitura obrigatória, vocês não vão se arrepender.

*Resenha postada originalmente no Blog Recanto da Mi.

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