Zélie ainda lembra quanto poder existia no solo de Orïsha quando os majis e seu povo eram livres para prosperar e reverenciar seus deuses. Antes de a Ofensiva acontecer e a magia desaparecer, nascer com os cabelos brancos era um motivo de celebração e alegria entre províncias inteiras, um sinal dos toques dos deuses que os abençoavam com dons poderosos para proteção de seu povo.
Celebrados e reverenciados em toda a nação, os maji foram os primeiros reis e rainhas de Orïsha e governavam em um tempo de paz. No entanto, esse reino de alegria não durou muito tempo, pois o abuso da magia trouxe consequências para todo o povo, e como punição, os deuses retiraram seus dons.
Com a magia dissipada, os cabelos brancos também desapareceram como sinal de seus pecados e o amor pelo majis se transformou em medo, trazendo a tona o ódio, a violência e o desejo de um reino que queria dizima-los.
E foi aproveitando essa fraqueza que o rei Saran não hesitou na primeira oportunidade de ataca-los, eliminando em cada família os integrantes nascidos maji. Foram poupadas somente crianças menores de 13 anos, idade na qual ainda não haviam manifestado seus dons e que consequentemente nunca chegariam a conhecê-los. Dentre eles estava Zélie, que ainda luta contra as lembranças de sua mãe acorrentada e enforcada pelo simples fato de ser uma maji.
Onze anos depois, Zélie tem a oportunidade de trazer a magia de volta a Orïsha e vingar a morte e o sofrimento de seu povo que ainda padece com leis e impostos abusivos, sendo tratados como a escória da sociedade. É com a ajuda de Amari, uma princesa fugitiva em posse de um poderoso artefato que uma faísca de esperança surgirá, mas para isso, elas precisarão despistar o príncipe herdeiro e o exercito do rei que estão dispostos a tudo para impedi-las de triunfar.
“Sem magia, eles nunca nos tratarão com respeito. Precisam saber que podemos revidar. Se queimam nossa casa, queimaremos a deles também.”
Primeiro volume da trilogia O Legado de Orïsha, Filhos de Sangue é uma história intensa e repleta de fantasia que trás como pano de fundo a África Ocidental e a cultura iorubá em uma trama bem delineada e com personagens muito bem construídos.
A narrativa é feita de forma a alternar entre as perspectivas de Zélie – a guerreira maji em busca de vingança pelo seu povo, Amari – a princesa fugitiva que apesar das regalias e benefícios de seu reino não vacilou em lutar por justiça e Inan, o príncipe disposto a extinguir qualquer chance de regresso da magia.
É impossível não criarmos empatia pela causa de Zélie e pelo sofrimento do seu povo que perece sendo desmoralizado pelo simples fato de serem diferentes e pela cor da pele. Nessa trama, a maldade, o preconceito e o ódio são palpáveis e a impotência pode ser sentida a cada virada de página.
Filhos de Sangue foi uma leitura incrível e recheada de representativa e ouso dizer que já pode ser considerava uma das melhores de 2019 de muitos leitores. Mas também foi uma leitura angustiante por esbarrar em situações que traduzem a nossa realidade, trazendo reflexões relacionadas à discriminação racial e social e abordando o abuso de poder contra um povo subjugado.
“Eles nunca permitirão que nós prosperemos. Sempre estaremos com medo. Nossa única esperança é lutar. Lutar e vencer. E, para vencer, precisamos de nossa magia.”
Indico o livro para quem busca uma história memorável, com direito a muita ação, magia e aventuras. Tenho certeza que o universo criado por Tomi Adeyemi irá conquistar o coração de cada leitor.