A premissa é simples: Jake decide levar sua namorada – a narradora da história -, com quem mantém um relacionamento há um certo tempo, para conhecer os seus pais. Durante a viagem, a protagonista sem nome questiona todos o seu relacionamento com Jake e martela na questão lançada no título do livro: ela pensa em acabar com tudo. O que ela quer do seu futuro? O que ela quer de Jake? O que ela conhece sobre o namorado? O que não sabe? O que sabe sobre si mesma?
No meio dessa pressão emocional sobre o que ela quer agora e o que ela poderá querer no futuro, a protagonista menciona algumas vezes a existência de um perseguidor em sua vida. Ele corriqueiramente deixa a mesma mensagem no seu telefone.
A minha descrição soa como um resumo perfeito da sinopse, sabe por quê? Pois mais de um terço do livro é isso. É a protagonista e Jake debatendo assuntos corriqueiros com um toque de metáfora aqui, um toque de alusão ali, um toque de soturnidade aqui. Aí, o livro começa a causar estranheza. Quando eu peguei para ler, não li sinopse, fui na indicação do Leo. 30% de leitura desse livro e eu jurava de pé juntinhos que se tratava de um romance contemporâneo. Foi quando começou a surgir essa sensação sufocante de que a qualquer instante o capeta brotaria das sombras. Eu não estou exagerando!
A cada nova página isso ficava mais claro para mim. Não é um romance contemporâneo, tem algo mais nessa história e isso me motivou a prosseguir. Como introdução, cada capítulo tem um diálogo sem descrição, sem nomes, sem basicamente detalhe algum. São apenas palavras trocadas entre estranhos e aos poucos, esses enxertos entregam detalhes ainda turvos aos nossos olhos.
Essa visão turva adquirida nos primeiros capítulos ganha um contorno quando o casal chega na casa dos pais, no interior, propriamente dito, no meio do nada. Dizer que vai dar ruim é pouco para perto do que acontece. Daí em diante é ladeira abaixo… Terminei a história me sentindo claustrofóbica.
A escrita de Iain é direta, não busca complicar a vida do leitor. A falta de descrição em alguns momentos é um problema para imaginar todo o cenário, mas em outros é uma artimanha para a própria história. O autor conseguiu contar uma história envolvente e assustadora utilizando de duas mecânicas: o que o leitor quer ver e o que o leitor quer fingir que não é verdade. Ele amarra toda a história e desenvolve com distinção os seus personagens. E assusta, impacta, comove e apavora!
Busca uma leitura que te surpreenderá? Sem sombra de dúvidas esse é o livro para você, meu caro. Eu ainda estou aqui sem chão com essa maravilha canadense!